Instituto da Tireoide e Laringe

Tratamento da boca seca

Esta semana, vamos falar sobre os efeitos e o tratamento da hipossalivação, os casos em que os pacientes se queixam de “boca seca” (xerostomia). O Resumo da Ópera traz esta semana um artigo publicado na Maxillofacial Plastic and Reconstructive Surgery. Este trabalho foi realizado no Departamento de Cirurgia Oral e Maxilofacial do Hospital Anam da Universidade da Coreia, onde os autores criaram um protocolo eficiente e bastante animador para o tratamento da hipossalivação. Vale a pena ler! 

A Maxillofacial Plastic and Reconstructive Surgery é uma revista científica revisada por especialistas que se concentra em pesquisas e estudos relacionados à cirurgia plástica e reconstrutiva da região maxilofacial. 

Therapeutic effects of sialendoscopy for diagnosis and treatment of hyposalivation patients: a retrospective study 
Efeitos terapêuticos da sialendoscopia para diagnóstico e tratamento de pacientes com hipossalivação: um estudo retrospectivo 
Maxillofac Plast Reconstr Surg 2022 Oct 24;44(1):34. 
doi: 10.1186/s40902-022-00360-8. 

Neste artigo, os autores propõem um novo protocolo de tratamento para pacientes com hipossalivação, trabalho realizado no Departamento de OMS da Korea University Medicine. 

A hipossalivação é uma doença com múltiplos sintomas, de difícil diagnóstico e tratamento. Ela é frequentemente encontrada em pacientes acima de 50 anos. Muitos fatores podem influenciar o surgimento dessa condição, como o envelhecimento, doenças sistêmicas, uso contínuo de medicamentos, histórico de radioterapia para câncer, fatores ambientais, desnutrição e doenças autoimunes. Um sintoma típico é a secura na região oral, a sensação de boca seca, e a mucosa da boca fica ressecada. Além disso, a língua fissurada e a insônia podem ocorrer entre pacientes com hipossalivação. No entanto, essa condição é difícil de ser diagnosticada e, muitas vezes, os sintomas são considerados triviais, levando muitos médicos a não dar a devida importância clínica. 

Em geral, a hipossalivação é diagnosticada quando a quantidade de saliva total não estimulada é menor que 0,1 ml por minuto. Algumas enfermidades clínicas, como doenças da tireoide com uso de radioiodoterapia e doenças autoimunes como a síndrome de Sjögren, podem agravar a função do parênquima da glândula salivar, o que leva a um potencial de cura limitado nesses pacientes. 

Diante dos casos de hipossalivação, a sialoendoscopia mostra sua eficácia tanto no diagnóstico quanto no tratamento. Com a irrigação direta com solução salina e dexametasona diluída, é possível aliviar a inflamação nos ductos salivares, além de lavar os ductos da via excretora glandular, eliminando os grumos ali presentes e contribuindo para a melhora da função glandular e o aumento da secreção salivar. 

Na fase de investigação da hipossalivação, a tomografia do pescoço com contraste radiológico fornece informações importantes sobre a estrutura anatômica das glândulas salivares maiores do paciente. Com essas informações, podemos diagnosticar hipertrofia ou atrofia das glândulas salivares, especialmente das glândulas parótidas e submandibulares. E, se houver sialolitíase existente, ela pode ser facilmente identificada por meio da imagem da tomografia computadorizada. Isso nos ajuda a fazer um diagnóstico preciso. 

Dentro do protocolo e cuidados para hipossalivação, os autores enfatizam a importância das orientações educacionais para o paciente, como, por exemplo: tomar bastante água e comer vegetais crus, o que pode tornar o ambiente oral suficientemente úmido. Deve-se evitar fumar, consumir bebidas alcoólicas e cafeína. A mobilização da língua pode estimular a glândula sublingual a secretar mais saliva, então o paciente deve ser estimulado a realizá-la.

E, finalmente, a massagem extraoral na glândula salivar maior — especialmente na glândula submandibular — para garantir a secreção suficiente de saliva. Esses métodos podem aliviar os sintomas desagradáveis da hipossalivação, e o paciente pode realizá-los facilmente em casa. Essas são dicas adjuvantes importantes para o sucesso do tratamento. 

Em uma etapa seguinte do protocolo de tratamento da hipossalivação, os autores utilizam a sialendoscopia, um procedimento que pode ser usado tanto para diagnóstico quanto para tratamento. A sialendoscopia é realizada no centro cirúrgico, utilizando instrumentos especiais através dos principais ductos das glândulas salivares, incluindo os ductos de Stensen e Wharton. Primeiro, faz-se o alargamento gradual do ducto salivar com uma sonda (trocater). A extensão do alargamento depende da gravidade da estenose ductal, e o cirurgião deve estar ciente de que o ducto é muito vulnerável à perfuração. Em seguida, introduz-se o sialendoscópio através dos ductos salivares. Nesse momento, podemos obter imagens do estado intraductal diretamente no monitor de vídeo, o que pode revelar o estado de inflamação intraductal, como obstrução por tampões mucosos (grumos). Depois disso, realiza-se a irrigação salina através do canal de irrigação do sialoendoscópio. 

Rotineiramente, são utilizadas solução salina e solução de dexametasona diluída. Após o procedimento, educamos o paciente sobre os cuidados pós-operatórios. A secura temporária da boca pode ocorrer logo após a operação e, frequentemente, devido à fase de irrigação, pode haver edema no local do procedimento (extraoral), na topografia das glândulas salivares maiores. Este fenômeno pode durar de 2 a 3 dias, e é necessário informar os pacientes sobre esses acontecimentos. 

O medicamento de primeira escolha a ser utilizado após a sialendoscopia é a pilocarpina (Salagen, Eisaikorea), que é um agonista do nervo parassimpático. Este medicamento aumenta o fluxo salivar, mas pode causar hiperidrose sistêmica, devendo o paciente ser informado desses efeitos colaterais. 

Dentro do protocolo, os autores realizam uma visita de acompanhamento ao paciente em 1 mês, 3 meses e 6 meses após o procedimento cirúrgico. Nesse período, eles monitoram os sintomas desagradáveis do paciente em relação à hipossalivação. Essa abordagem cuidadosa pode aliviar o desconforto do paciente, mesmo que o período de tratamento seja superior a um ano. 

Os autores acompanharam os pacientes com hipossalivação adotando tanto uma abordagem curativa quanto de cuidado. Esse conceito de cura inclui o diagnóstico, a terapia medicamentosa e os procedimentos cirúrgicos. Atualmente, muitos estudos sobre o tratamento da hipossalivação com sialendoscopia estão sendo realizados com bons resultados, mostrando que esta enfermidade é curável e, em alguns casos, controlável, sendo o desconforto diário aliviado com a cooperação entre o médico e o paciente. Este estudo mostra resultados animadores tanto para um diagnóstico mais preciso quanto para a eficácia do tratamento da hipossalivação. 

Dr. Francisco Amorim

Dr. Francisco Amorim

Dr. Francisco Amorim é Doutor pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Mestre pelo Hospital Heliópolis. Ele é Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (TCBC) e atua como médico credenciado nos Hospitais Mater Dei Premium e Israelita Albert Einstein, em Goiânia-GO.
Membro ativo da Sociedade Latino-Americana de Laringologia e Fonocirurgia, Sociedade Latino-Americana da Tireoide, Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF).
É diretor técnico do Instituto da Tireoide & Laringe (ITL), além de pesquisador e autor de artigos na área, destacando-se por sua contribuição significativa à ciência médica.

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