Instituto da Tireoide e Laringe

Pandemia do Covid-19 – a solução pode estar em nossas mãos

             No final de 2019 as autoridades Chinesas alertaram ao mundo para o surgimento de uma série de casos de pneumonia de origem desconhecida, que estava acometendo inúmeras pessoas na populosa cidade de Wuhan. Posteriormente, equipes de cientistas descobriram que todos estes problemas de origem respiratórias tratava-se de uma infecção causada por um novo tipo de coronavírus, tais vírus receberam este nome devido às espículas na sua superfície, que lembram uma coroa. Desde o início de fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a chamar oficialmente a doença causada pelo novo coronavírus de COVID-19. COVID significa Corona Vírus Disease (Doença do Coronavírus), enquanto “19” se refere a 2019, quando os primeiros casos foram divulgados publicamente pelo governo chinês. Desde então, o COVID-19 vem espalhando-se a diferentes países do mundo fazendo inúmeras vítimas a cada dia numa verdadeira e assustadora progressão geométrica. Mas, o que realmente acontece quando este vírus infecta o ser humano? o que devemos fazer?

                  Os Vírus são estruturas muito simples e pequena que não cotem células, chamados de acelulares, são formados basicamente por uma cápsula proteica (como uma espécie de casca) envolvendo o seu material genético, logo eles dependem de uma célula viva para se reproduzir, precisam penetrar nas células sadias para se multiplicam.

                  O COVID-19 pode se espalhar através da superfície de objetos que costumeiramente encontramos em nosso dia a dia, como por exemplo: mesas, talheres, copos, maçaneta das portas, dinheiro, botão de chamada do elevador entre outros. Porém a sua principal maneira de se propagar é através das gotículas quando as pessoas falam muito próximas umas das outras, tossem, espiram ou quando as pessoas encostam em superfícies já contaminadas ou mesmo pegam em pessoas doentes (aperto de mãos e abraços) e logo após, por não higienizarem suas mãos, acabam levando este vírus para seu próprio corpo ao tocar em sua face, manipulando os olhos, nariz e até mesmo a boca.

                  O COVID-19 começa a sua jornada pelas vias aéreas superiores (nariz e boca) segue em direção a regiões profundas do nosso corpo, nos pulmões é que o vírus pode causar os efeitos mais dramáticos. O ar que respiramos todos os dias, até chegar aos pulmões, passa pelo trato aéreo superior que é revestido de bilhões de células, formando uma extensa membrana, um verdadeiro tapete que nos protege de infecções oportunistas. O COVID-19 ao penetrar em nosso organismo se conecta a um receptor específico da célula sadia, que está nesta membrana, para introduzir o seu material genético. Esta célula sadia, sem saber o que está acontecendo, executa as novas ordens do COVID-19 que é copiar novos vírus e multiplicar o material genético do vírus invasor. Como resultado desta invasão a célula torna-se doente, fica completamente repleta de novas cópias do vírus original e recebe a ordem final de auto destruição. Nesta fase, a célula já destruída libera novas e inúmeras partículas do COVID-19 prontas para atacar outras células. Desta forma, após o décimo dia da doença, bilhões de células já estão infectadas mantendo um crescimento exponencial de novos vírus até invadirem os pulmões.

                    O sistema imunológico existe para nos proteger, é composto de células de defesa popularmente chamado de “exército amigo” e são acionados todas as vezes que estamos diante de um agente agressor. Este sistema imunológico precisa estar em boas condições para nos proteger, do contrário (imunidade baixa) torna-se um perigo. A medida que as células de defesa entram nos pulmões para combater o COVID-19, o vírus acaba infectando algumas células do “exército amigo”, que torna-se doente e cria uma verdadeira confusão no sistema imunológico. As células se comunicam, uma com as outras, através de pequenas proteínas chamadas Citocinas, quase todas as reações imunológicas são controladas por elas. O COVID-19 faz com que as células de defesa infectadas ordenem um assassinato sangrento em larga escala, colocando o sistema imunológico numa instabilidade tremenda, passando a combater o próprio “exército amigo”, enviando muito mais soldados do que deveria, desperdiçando seus recursos e causando danos ao nosso próprio organismo. Particularmente participam destes estragos os Neutrófilos, que começam a bombardear o campo de batalha com enzimas, destruindo tanto células sadias como células doentes, e os Linfócitos T, que começam a ordenar que tanto as células infectadas como as células sadias cometam um suicídio controlado. Quanto mais células de defesa imunológica chegam ao campo de batalha, mais danos causam e mais tecido pulmonar saudável eles matam. Na maioria dos casos este sistema imunológico descontrolado, recupera lentamente o comando, matando as células infectadas, interceptando vírus que ainda tentam infectar novas células, passam a assumir o total controle da situação, limpam o campo de batalha e desta forma, começa então, a recuperação clínica do paciente.

                 A maioria das pessoas infectadas pelo COVID-19 passam por todas estas fases no sistema de defesa, com sintomas relativamente leves, porem muitos casos tornam-se graves ou mesmo críticos. O COVID-19 é particularmente perigoso na população acima de 60 anos, doença crônica preexistente que apresenta um sistema imunológico debilitado. Porém é seguro dizer que a infecção causada pelo COVID-19 é muito mais perigosa do que uma simples gripe.

                 O que acontece nas situações mais graves da infecção pelo COVID-19? Nas situações críticas, observa-se que milhões de células das vias aéreas superiores morreram em virtude do primeiro combate do sistema imunológico com a invasão do coronavírus, e com elas a membrana protetora fica danificada, isto significa que nos  alvéolos pulmonares (onde ocorrem as trocas gasosas, fundamental para oxigenação dos nosso tecidos e órgãos) podem ser infectados por bactérias oportunistas que acabam  causando uma pneumonia grave, neste momento o paciente apresenta falta de ar, má oxigenação tecidual (saturação baixa) que poderá evoluir para intubação orotraqueal e consequente respiração mecânica,para manter a oxigenação que nosso tecidos e órgãos necessitam para sobreviver. A esta altura o sistema imunológico está sobrecarregado, pois teve que lutar, com sua capacidade total durante algum tempo, produzindo armas antivirais, e como nesta fase milhões de bactérias estão se multiplicando rapidamente o sistema entra em colapso. Estas bactérias podem penetrar na corrente sanguínea e invadir nosso corpo (sepse) levando a um risco de morte iminente. Por todas estas questões que o COVID-19 é mais perigoso do que a simples gripe, o coronavírus é mais contagioso e espalha-se muito mais rapidamente.

              Como ainda não temos uma vacina para combater o COVID-19, temos que fiscalizar nosso comportamento, dentro e fora das nossas casas, isto significa duas coisas bem simples: não ficar infectado e não infectar os outros, para isto devemos lançar mão de hábitos e costumes que para nos funcionam como uma verdadeira vacina social, que neste momento passa a ser crucial no combate ao coronavírus. O hábito de lavar as mãos é muito importante, pois o sabão é realmente uma ferramenta poderosa, ele quebra a barreira protetora que envolve o COVID-19 e deixa o vírus incapaz de infectar uma pessoa. O sabão também deixa suas mãos escorregadias e com movimentos mecânicos da lavagem, levam o vírus para longe das suas mãos e do seu corpo, por isto lave bem as  suas mãos.

               Outra medida preventiva e protetora é o distanciamento social, o que não é nada fácil, mas necessário e importante este sacrifício neste momento. Isto significa não abraçar um amigo ou um ente querido e muito menos aperto de mãos, manter o distanciamento mínimo necessário um dos outros. Se for possível fique em casa para proteger aqueles que precisam estar fora de casa para que a sociedade funcione, tais como: médicos, enfermeiros, policiais, padeiros, caixa de supermercados enfim todos aqueles cujos trabalhos são ditos essenciais nesta pandemia.

               A quarentena é uma medida de proteção contra a propagação do vírus, não muito popular, mas garante aos profissionais de saúde e especialmente pesquisadores de medicações e vacinas um tempo decisivo para novas descobertas no controle e erradicação do COVID-19. A questão de como as pandemias terminam, depende de como elas começam, se começarem rapidamente com uma curva alta de números de contaminadas, elas terminam mal, com maiores números de complicações e óbitos, se começarem devagar com uma curva de contaminação tênue, elas terminam com resultados melhores do que o exemplo anterior.

      Portanto, vamos respeitar a quarentena pois olhando para o bem maior, nossas vidas, o preço a ser pago é muito pequeno, a solução desta pandemia está literalmente em nossas mãos. Então, vamos lavar as mãos!!!

Francisco Amorim

Francisco Amorim

Dr. Francisco Amorim é Doutor pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Mestre pelo Hospital Heliópolis. Ele é Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (TCBC) e atua como médico credenciado nos Hospitais Mater Dei Premium e Israelita Albert Einstein, em Goiânia-GO.
Membro ativo da Sociedade Latino-Americana de Laringologia e Fonocirurgia, Sociedade Latino-Americana da Tireoide, Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF).
É diretor técnico do Instituto da Tireoide & Laringe (ITL), além de pesquisador e autor de artigos na área, destacando-se por sua contribuição significativa à ciência médica.

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