Matéria publicada no Jornal O popular em 24 de julho de 2023  

Casos de câncer de cabeça e pescoço devem aumentar 30% ao ano até 2030; ações de prevenção e diagnóstico precoce são importantes ferramentas de cura

Todos os anos, o mês de julho é inteiramente dedicado à conscientização e à prevenção do câncer de cabeça e pescoço. Essa campanha é chamada de Julho Verde e visa disseminar mais informação sobre esse tipo de doença, incentivando os hábitos preventivos e a detecção precoce dos tumores, prevendo aumentar as chances de sucesso do tratamento. “No Brasil, 48% dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço são diagnosticados em estágios mais avançados. Por isso, a população precisa estar cada vez mais consciente de que as chances de cura do câncer são muito maiores para os casos diagnosticados no início”, explica o diretor técnico do Instituto da Tireoide & Laringe, Dr. Francisco Amorim, cirurgião de cabeça e pescoço.

Segundo o especialista, o diagnóstico precoce desses tumores pode reduzir a mortalidade em até 90%. “No próximo dia 27 de julho, é celebrado o dia mundial da prevenção do câncer de cabeça e pescoço. A campanha educativa tem como objetivo chamar a atenção para essa doença, cujos sintomas iniciais, muitas vezes, são negligenciados pelos pacientes, devido à falta de informações e, algumas vezes, pelos próprios profissionais de saúde não especializados. Isso acaba proporcionando uma triste realidade nos ambulatórios da especialidade. Então, as ações de conscientização a respeito do diagnóstico precoce constituem o sinal verde da esperança de um sucesso no tratamento”, diz o médico.

Os cânceres de cabeça e pescoço reúnem tumores malignos que atingem a boca, faringe, laringe, nariz, glândulas salivares, tireoide, entre outros. No geral, essa doença afeta os homens de duas a quatro vezes mais do que as mulheres. O risco aumenta também com a idade: a maioria das pessoas diagnosticadas têm mais de 50 anos. A doença é, atualmente, o sétimo câncer mais comum em todo o mundo, sendo responsável por mais de 660 mil novos casos diagnosticados e 325 mil mortes anualmente. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que surgirão 39.550 novos casos de câncer de cabeça e pescoço a cada ano no triênio 2023–2025. “Se somarmos o câncer de pele melanoma, que pode também atingir a região da cabeça e do pescoço, esse número sobe para 48.530. Segundo dados da GLOBOCAN, Agência Internacional de Pesquisa em Câncer, a incidência geral desse tipo de enfermidade no mundo deve ter um crescimento anual previsto de 30% até 2030”, alerta Dr. Amorim.

Fatores de risco

As crescentes taxas de incidência de câncer de cabeça e pescoço podem ser atribuídas, em parte, ao aumento do câncer de orofarínge, relacionado à infecção pelo Papilomavírus Humano, o HPV. “No entanto, o uso do cigarro e seus derivados, como charutos, cachimbo, cigarro de palha e os atuais cigarros eletrônicos, bem como o consumo excessivo de bebida alcoólica, usados separadamente ou associados, são os principais fatores de risco e respondem por 72% dos casos diagnosticados de câncer de cabeça e pescoço quando usados associadamente”, relata o diretor técnico do Instituto da Tireoide & Laringe.

A exposição crônica à luz solar UV nas regiões de cabeça e pescoço também é outro fator de risco para o desenvolvimento desse câncer, principalmente na pele, assim como a substâncias tóxicas, como nos casos de pessoas que trabalham em setores da indústria e são expostas sem a devida proteção ao amianto, pó de madeira, cheiro forte de tintas e solventes, derivados de petróleo e exposição a níquel. “Além disso, a exposição à radiação, como a radioterapia para o tratamento de outros tumores, por exemplo, pode aumentar esse risco. O estilo de vida também pode influenciar no surgimento do câncer de cabeça e pescoço. Como, por exemplo, dieta inadequada, pobre em vitaminas A e B, falta de atividade física, excesso de peso e má higiene da boca. Esses sintomas atualmente são considerados fatores de risco, porém, bem menores que os anteriormente citados”, explica Dr. Amorim.

Sintomas

Apesar de uma lista de sintomas, há casos em que a pessoa com câncer de cabeça e pescoço não apresenta nenhum sinal da doença. É o que acontece, com frequência, nos casos do câncer de tireoide em sua fase inicial. “Em outras ocasiões, o paciente pode até apresentar um ou mais dos sintomas descritos, e não ser necessariamente um câncer de cabeça e pescoço. Por isso é importante, em casos de dúvidas ou preocupação com qualquer desses sinais, falar com o médico especialista no assunto”, destaca o diretor técnico do Instituto da Tireoide & Laringe.

No entanto, em grande parte dos casos, as pessoas com câncer de cabeça e pescoço apresentam sinais que podem ajudar no diagnóstico, tais como:    

• Inchaço ou ferida na boca que não cicatriza – esse é o sintoma mais comum;
• Mancha vermelha ou branca na boca;
• Caroço, inchaço ou massa na área da cabeça ou pescoço, com ou sem dor;
• Dor de garganta persistente, sem melhora com medicações;
• Rouquidão ou alteração na voz;
• Obstrução nasal ou congestão nasal persistente;
• Sangramento nasal frequente e/ou corrimento nasal incomum;
• Dificuldade para respirar;
• Visão dupla;
• Dor ou dificuldade para mastigar, engolir ou mover a mandíbula ou a língua;
• Dor na mandíbula;
• Sangue na saliva;
• Amolecimento dos dentes;
• Dentaduras que não se fixam mais na boca;
• Perda de peso inexplicável;
• Dor de ouvido ou infecção persistente.

Assista a entrevista do Dr. Francisco Amorim para o Jornal O popular: