O ano de 2020 foi marcado pela PANDEMIA do novo coronavírus, milhões de vidas foram ceifadas pela contaminação e complicação que este vírus pode acometer no organismo humano. O COVID-19 trouxe ao mundo muito medo: medo de se contaminar, medo de transmitir e principalmente medo de perder um ente querido.
Um verdadeiro exército formado por profissionais de saúde e cientistas, foi criado para combater este terrível vírus. Na luta pela vida, muitas vezes o inimigo vence deixando sequelas amargas em familiares e amigos mais próximos da vítima. Em outras situações, a luta constantes destes profissionais é recompensada por mais uma vida salva. São muitas histórias vividas com final feliz e muitas com o triste fim de uma história de vida.
Enquanto lutamos pela imunização da população, com as novas vacinas produzidas, como forma de levar a produção de anticorpos neutralizantes para que seja eficaz contra o COVID-19, o mundo parece viver uma segunda onda de contaminação e mais novos casos agravantes.
Os sintomas são muito variados, o COVID-19 não afeta igualmente todas as pessoas, comporta-se como uma roleta russa diante de inúmeros fatores clínicos e epidemiológicos que a ciência ainda não desvendou por completo.
CORONAVÍRUS PODE DEIXAR SEQUELAS NA VOZ, APONTA ESTUDO
A infecção pelo novo coronavírus pode causar mudanças sutis na qualidade da voz, segundo um novo estudo publicado pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). De acordo com os pesquisadores, o vírus pode causar mudanças no movimento dos músculos das pregas vocais, indicando uma possível inflamação. Para uns os sintomas apresentam-se como leves a moderados, para outros os sintomas apresentam-se mais complicado e perigoso.
Calcula-se que 15% dos pacientes apresentem sintomas severos e precisem ser internados para receber oxigênio, às vezes na UTI. Neste caso o tempo para recuperação é longo e o período de transmissibilidade do vírus, ainda mais elevado.
Estes pacientes mais graves, contaminados pelo COVID-19, podem sofrer destruição do tecido pulmonar e consequentemente prejudicar as trocas gasosas da respiração, fundamental ao nosso organismo. Diante desta situação os pulmões não conseguem fornecer oxigênio para o corpo ou não eliminam o dióxido de carbono adequadamente, sendo necessária uma intubação (procedimento que consiste na introdução de um tubo, através da boca ou do nariz, até a traqueia do paciente e com isto instala-se o sistema de ventilação pulmonar) para salvar a vida desse paciente.
O tempo de permanência neste sistema de tubos e conexões difere para cada caso de contaminação pela COVID-19 e condições clínicas do paciente. A retirada do aparelho deve ser gradativa e com o constante acompanhamento da equipe de intensivista da UTI, que regula periodicamente o ventilador pulmonar para adequá-lo à necessidade respiratória do paciente.
PACIENTES DE COVID QUE FORAM INTUBADOS PODEM TER LESÕES NA TRAQUEIA
O período de permanência da cânula traqueal em contato com a mucosa da laringe e da traqueia é um importante fator de complicações das vias aéreas e aumenta consideravelmente a partir do sétimo dia de intubação, quando a indicação de traqueotomia (abertura da traqueia) passa a ser discutida.
As evidências indicam que a duração da intubação está associada à prevalência e gravidade de lesão na laringe, resultando em maior risco de alteração da qualidade vocal (76%) e dificuldade a deglutição (49%) após a retirada do tubo traqueal.
O mecanismo do trauma que esta cânula (feita de material rígido) provoca na laringe se dá pela pressão que a mesma exerce nos pequenos vasos da delicada mucosa laríngea levando a isquemia e posterior irritação, inflamação, edema e congestão deste tecido.
A cânula permanece inerte e exerce pressão sobre a região posterior da laringe, local no qual se identificam os maiores danos a sua estrutura. Além do efeito compressivo do tubo, o trauma na laringe pode ser causado pelo movimento entre a cânula e a laringe (movimento em pistão) ocasionada pela tosse, deglutição e/ou pigarro emitidos pelos pacientes devido aos movimentos transmitidos pelo ventilador durante a manipulação para a sua aspiração ou mesmo transporte do paciente.
Toda esta agressão mecânica na mucosa laríngea pode ser traduzida, após a extubação (retirada do tubo), pelos sintomas de dores de garganta, dificuldade para falar, tosse, aumento das secreções, dor para deglutir os alimentos e nos casos mais acentuados falta de ar.
A rouquidão, porém, é um sintoma frequente, devido à elevada incidência de lesões na laringe após intubação. Diante deste cenário de pandemia é importante priorizar a INVESTIGAÇÃO dos sintomas, após o tratamento para COVID-19, manifestadas pelos pacientes que foram internados em UTI, uma vez que o diagnóstico precoce de uma sequela apos intubação prolongada poderá ser de fundamental importância para a reabilitação funcional da sua faringe e laringe, em tempo hábil, com melhora da sua deglutição e qualidade vocal.
Fiquei rouco e com dificuldade para deglutir os alimentos após o tratamento da COVID-19, o que devo fazer? Procure um especialista para avaliação clínica presencial da sua laringe e faringe, para que se faça um correto tratamento e orientação multiprofissional. Acredite, estas medidas poderão ser essenciais para restabelecimento de uma vida normal após vencer um terrível inimigo, COVID-19.
Dr. Francisco Amorim CRM 14221
Cirurgião de Cabeça e Pescoço
Especialista em Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço – SBCCP
Diretor Técnico do Instituto da Tireoide & Laringe